top of page

Dioguinho, o matador sanguinário


Diogo da Rocha Figueira nasceu em Botucatu, no dia 9 (nove) de outubro de 1863, e aprendeu as primeiras letras na Escola Botucatuense. Era um garoto inteligente, mas briguento, e participava de muitas brigas na saída e fora da escola.

Com 15 (quinze) anos de idade, Dioguinho foi trabalhar com engenheiros e mestres agrimensores que faziam serviços para a estrada de ferro sorocabana, que estava chegando à região de Botucatu, e aprendeu a profissão de agrimensor.

Com 18 (dezoito) anos, casou-se na cidade de Itatinga com a jovem Antônia de Mello, moça de boa formação. Dioguinho foi trabalhar com o seu concunhado Antônio Canrardelli, que na época tinha uma fábrica de candeias (lamparinas). Dioguinho era bom agrimensor, e, assim, foi convidado para trabalhar para fazendeiros de café na região de Tatuí.

O Primeiro Crime

Com 20 (vinte) anos, Dioguinho mudou-se para Tatuí com a sua esposa e seu irmão mais novo, João Dabney e Silva (Joãozinho). Um dia, ao chegar do trabalho, encontrou Joãozinho chorando. Dioguinho perguntou ao irmão o que tinha acontecido, e o garoto contou que um circo estava na cidade, onde tinha assistido ao espetáculo, e o gerente de tal circo o tratou mal, dando-lhe um tapa no rosto.

Ao saber disso, imediatamente Dioguinho foi acertar as contas com o gerente do circo, levando o garoto (Joãozinho). Ao chegar lá, o gerente confirmou o que fizera, dizendo que o garoto queria entrar de graça por meio ludibrioso, pois fora mal-criado e atrevido.

Houve uma grande discussão, e Dioguinho pegou o chicote que levava consigo e açoitou o gerente do circo. Este tentou pegar uma arma, mas não teve tempo: Dioguinho foi mais rápido e fincou-lhe uma faca no peito, matando-o na hora. Este foi seu primeiro crime, mas, no curso do processo, entendeu-se que Dioguinho havia atuado em legítima defesa.

O Segundo Crime

No segundo crime do Dioguinho, o pivô da história foi sua sobrinha. Ela lhe contou que era apaixonada por um rapaz, mas este, depois de tê-la seduzida, não quis mais casar se com ela e sumira. Ao ouvir a história, Dioguinho ficou irado. Investigou o paradeiro do rapaz, e descobriu que estava morando na casa de parentes na vila denominada “Passe Três”, distrito de Tatuí (hoje, a cidade chama-se Cesário Lange).

Dioguinho para lá se dirigiu, encontrado o rapaz em um bar. Aguardou a sua saída, e já era noite. O rapaz caminhava sozinho, num lugar mais escuro e ermo, e Dioguinho, montado a cavalo, alcançou-o. Aproximou-se e o agrediu com um porrete que levava para a ocasião. Deu-lhe uma cacetada na cabeça, e o rapaz caiu desfalecido e recebeu outras tantas cacetadas.

Montou em seu cavalo e foi embora, voltando para Tatuí. Por este processo, também foi absolvido.

O Terceiro Crime

O terceiro crime foi cometido por motivo fútil. Dioguinho comprara uma palheta (espécie de chapéu da época), que era a última moda. Foi estreá-la em um baile no clube localizado em Tatuí, deixando o bonito chapéu sobre uma cadeira e foi dançar.

Um desconhecido, distraído, não se deu conta e sentou-se sobre a palheta. Dioguinho, observando a atitude do desconhecido, abandonou o seu par e investiu para cima do moço. Uma discussão iniciou-se e, sem perguntar, com um só golpe, Dioguinho cravou-lhe o punhal no peito, até o cabo. O desconhecido morreu ali mesmo. Por este crime também não foi condenado. A sua absolvição foi muito discutida pela opinião pública, e começou a sua fama de valente em Tatuí.

Como Dioguinho, entendia bastante de agrimensura, resolveu mudar de cidade. São Simão, naquela época, já era a maior produtora de café, e seu campo de trabalho era especial. Veio para cá, e se apresentou aos coronéis e barões do café, acabando por ter seus serviços contratados.

Era social, gostava de receber visitas e de ir a festas, sabia agradar e apreciava fotografias. Era vaidoso, e talvez julgasse que ser criminoso era glória.

Muito agregado aos coronéis, trouxe sua mulher e seus irmãos Theofilo, Afonso e Virgílio a São Simão, homens corretos e de bem. Trouxe também José Olegário e Silva (conhecido por José Diogo) e Joãozinho: este dois últimos eram companheiros de crimes.

Teve também uma irmã, Constância. A família montou o Hotel dos Viajantes, localizado, na época, à esquina da rua Marechal Deodoro, com a rua Conselheiro Antônio Prado. Dioguinho foi residir com sua mulher na atual rua Rui Barbosa.

Dioguinho foi bastante intimo dos coronéis do café, por incrível que pareça. Apesar de sua vida agitada de criminoso com seu bando, Dioguinho foi, em 1884, nomeado a exercer o cargo de Oficial de Justiça, apregoando os réus nas audiências, fazendo diligências e intimações.

Mesmo assim, matava por sadismo ou a mando de coronéis para ganhar dinheiro e fama. Fez muitos assassinatos: segundo pesquisa, mais de cem, em toda São Simão e região.

Em todo assassinato feito, foi processado, saindo ileso, nunca condenado. Em um dos processos, quando perguntado pelo juiz quantas pessoas havia matado, respondeu somente vinte e quatro pessoas.

O Desaparecimento

Todo o Estado de São Paulo já tinha conhecimento do famoso bandido, mas as autoridades demoraram para tomar providências. Sua última bandidagem foi o caso de Balbina, mulher muito bonita e mandona. Isso foi no mês de março 1887.

Balbina, namoradeira, tinha um caso com Marciliano Pereira Machado (Marciliano fogueteiro). O comerciante Manuel Ferreira, de ciúmes da mulher, pediu ao famoso bandoleiro que resolvesse a questão. No dia seguinte, Marciliano estava desembarcando na “Estação do Cerrado” e, ao sair da estação, foi seguido por Dioguinho e seus comparsas, que deram tiros nas costas de Marciliano. Balbina foi judiada pelos bandidos e, no outro dia, fugiu para Casa Branca, onde tinha parentes, que aconselharam-na a ir a São Paulo dar parte no departamento especializado.

Foram ordenados ao delegado de polícia, Dr. Antônio de Godoy Moreira Costa, que com sua equipe veio para são Simão e Cravinhos atrás do bandido, assessorados pelo Coronel Pedro França Pinto.

Dioguinho, procurado em São Simão e região, já estava escondido nas margens do rio Mogi Guaçu. A patrulha já sabia onde o bandido se escondia, e ficou de plantão ao entardecer, esperando Dioguinho e Joãozinho saírem para buscar a correspondência.

A patrulha ficou escondida do outro lado do rio, em Santa Eudóxia (São Carlos), aguardando a chegada dos dois bandidos. Isso aconteceu dia 1 de maio de 1897 ao entardecer.

Quando chegaram no local, Joãozinho estava remando a canoa. A patrulha prontamente atirou, matando só Joãozinho, que caiu no rio, e Dioguinho pulou da canoa junto com seu cachorro caçador de perdiz, que sempre o acompanhava. Era noitinha do outro dia, quando acharam o corpo do Joãozinho, que foi enterrado do lado de São Simão. O corpo de Dioguinho jamais foi encontrado.

Alguns historiadores atestam que Dioguinho continuou vivo, aparecendo em diversos lugares do Brasil.

O legado sombrio de Dioguinho

As peripécias criminosas de Dioguinho conquistaram muita fama, inclusive fora do Estado de São Paulo.

Há diversos trabalhos científicos e artísticos sobre esse assunto, alguns dos quais listamos abaixo:

– “Dioguinho, o matador dos punhos de renda”: livro de autoria de João Garcia, de 325 páginas, publicado em 2002 pela Editora Casa Amarela, que narra em detalhes a vida de Diogo da Rocha Figueira, utilizando a trajetória do bandido como o retrato do interior paulista no final do Século XIX.

– “Dioguinho, narrativa de um cúmplice em dialecto”: livro de autoria de Antonio de Godoi Moreira e Costa, 4º Delegado de Polícia da Comarca da Capital à época, que foi o encarregado, em 1897, de comandar a captura de Dioguinho.

– “Dioguinho”: série de artigos elaborados por João Amoroso Netto, também Delegado de Polícia, mas em época posterior à do cometimento dos crimes, publicada no jornal Diário da Noite, em 1949, tomando como base dados de processos judiciais arquivados nas Comarcas de Ribeirão Preto, Botucatu e São Simão.

– “Dioguinho”: filme datado de 1917, com tons de comédia, dirigido por Guelfo Andalo, com o elenco de Antônio Latari, Elvira Latari, Georgina Marchiani e Antonio Rolando.

– “Dioguinho”: outro filme, desta vez lançado em 1957, narrando a trajetória de Dioguinho, com a direção de Carlos Coimbra, e elenco de Helio Souto, Norma Monteiro, Nina Golkin, José Policena, Ary Ferreira, dentre outros.




Mas é importante não esquecer que, apesar de a história de Dioguinho, às vezes, adquirir tons de aventura que podem eventualmente até cativar nossa imaginação, seus crimes e o sofrimento por eles causado são bem reais.

Por exemplo, em 1895, Dioguinho assassinou covardemente o Capitão da Guarda Nacional José Venâncio de Azevedo Leal, em uma cruel emboscada, na cidade de Mato Grosso de Batatais (hoje, Altinópolis). Sem dúvida, é inegável que os descendentes de José até hoje sofrem com o assassinato, assim como as famílias de dezenas de outras vítimas de Diogo da Rocha Figueira.

Comments


Outras Notícias

bottom of page